12 de mai. de 2010

O dia em que não vivi

Foram muitos anos de convivência, de carinhos, de doações de tempo. Havia entre nós, muito mais que amor e respeito. Eu a admirava e ela sempre preocupada com meu bem estar e de meus irmãos. Eu até achava que ela exagerava, mas era assim mesmo. Coisas de mãe.

A saudade que eu tinha por ela sempre era grande, porque fui morar longe, em outro estado e ela havia me pedido que não fosse. Mas eu precisava ir, mesmo que com o coração partido.

Havia acabado de me casar e meu marido fora transferido para Brasília. Ela chorou no dia em que vim para cá. Eu adoeci meses depois e fiz uma retirada de um tumor. Os médicos disseram que era o tumor da tristeza. Devia ser mesmo porque eu só fazia chorar, de manhã, de tarde e a noite. Quase não dormia direito por tanta e tanta saudade.

No começo achei que não iria me adaptar por aqui pois as pessoas são de comportamento muito diferente do que eu estava acostumada. São mais calados, fechados. Quase não conversam. Não existe vizinhança. Esquisito. Depois acabei me conformando, mas nunca me acostumei com essa terra.

Minha mãe vivia me pedindo prá voltar. Mas como eu poderia? Seria simples, mas ao mesmo tempo sem possibilidades. E o tempo passou e vieram os filhos e ela mais que depressa veio para ficar comigo. Ficou toda boba com o neto mais recente. Ficou comigo um tempo e se foi e logo adoeceu.

Passaram os meses e mais um derrame levou minha mãe embora, ainda na flor da idade, com apenas 54 anos. Faltava pouquinho para completar seus 55 anos. Já tinha até comprado roupa nova prá estrear em sua festa de aniversário que não aconteceu.

Eu estava dormindo no dia em que ela se foi e fui acordada com a campainha do telefone, mas meu marido já tinha ido atender. Ele chorava no telefone e eu senti um gelo na barriga. Minha mãe tinha acabado de partir.

Por uns dois minutos ou mais, fiquei em silêncio e depois me entreguei ao desespero total. Acusava os médicos que estavam cuidando dela de assassinos, frios, cruéis e me lembro que fui para o Rio à noite chorando sem parar, com meu filho mais velho ainda bebê no meu colo. Eu não conseguia e nem queria aceitar aquilo. Estava indo para o enterro da minha mãe, pedindo a Deus que não desse tempo de vê-la. Eu não queria ver minha mãe dentro de um caixão, coberto de flores, sem poder sentir seu abraço que sempre foi meu, quando eu a visitava e que deixava ela tão feliz. Minha mãe não iria me abraçar, nem me beijar, nem mais sorrir para mim.

Preferia não ter que ver. E aconteceu que por me demorar a chegar, ela foi sepultada sem que eu tivesse chegado a tempo. Mesmo assim foi horrível ter que ver seu túmulo, saber que estava ali e ninguém iria me trazê-la de volta.

Aquele dia ficou tudo parado, sem motivação, sem emoção. Nem lembro se chovia ou fazia sol. Sei que era um dia feio, muito feio. Não lembro se almocei, se jantei.

Sei que não vivi.

Sempre achei que perder nossa mãe fosse terrível, mas é muito pior do que isso. Não tem explicação para o pior momento da vida da gente.

Precisei de ajuda psicológica por quase dois anos e fui me conformando com o tempo que foi se passando. Me reergui e voltei a viver, porque até então eu não sabia o que eu estava fazendo ao certo, se vivendo ou morrendo em conta gotas.

Ontem se tivesse conosco ela completaria 70 anos e ainda estaria jovem e bonita conosco. Mas não foi assim que Deus quiz.

Dizem que o tempo ajuda. Que sara feridas. Que nos faz esquecer. Tudo mentira. O tempo apenas aumenta a cada passo que ele dá, a saudade que vai ficando de um tamanho anormal e que quase não cabe no nosso coração de tanta dor que essa saudade faz.

Ameniza o sofrimento? Se não precisar mais de um psicólogo é amenizar sofrimento, então estou curada, porque não precisei mais.

mas, continuo com saudades, tristeza e com uma ferida enorme no coração que hoje sei, não vai fechar. E ainda choro.

A minha mãe dedico todo meu amor, exclamo aqui toda minha saudade e peço á Deus que continue cuidando dela com muito carinho até que possamos nos encontrar.

Não é uma boa lembrança para se ter da nossa mãe, mas todos os anos, nos dias das mães é assim comigo. Não tem como ser diferente.

Eu o amo e isso é tudo.

Um comentário:

  1. Dia triste, muito triste, apesar da pouca idade que tinha, eu ainda me lembro dele. Infelizmente aconteceu, e cedo. Imagino a dor dos filhos, aliás, não imagino não e nem quero imaginar, mas sei que deve ser muito mais do que difícil. Minha avó era uma pessoa cheia de vida e de repente se foi. Mas virou anjo e eu sei que de onde quer que ela esteja agora, está olhando por todos nós, cuidando de cada um com aquele mesmo zelo... Não me recordo de muitos momentos ao seu lado, mas do pouco que ainda consigo me lembrar, tenho a certeza de que ela exerceu o papel da avó. Aquelas avós que a gente vê em filmes, novelas, era ela. Me preparando aquele ovinho gostoso que nunca mais comi igual, indo nos buscar na escola, sempre preocupada e disposta a ajudar. Saudades da Vó Tuca, um anjinho lá no céu...

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