22 de nov. de 2010

O sapo gordo

     O que eu vou falar pra vocês parece até mentira, mas não é. Se pudessem vir até minha casa saberiam da verdade. É mato pra tudo quanto é lado e a natureza agradece.
     Teve um dia, no ano passado que choveu pra caramba. Choveu um dia, dois, três, um montão de dias. Graças a Deus eu moro no lugar mais alto de Brasília e aqui não tem enchente, mas teve um monte de lugar que alagou. Quando não chovia de manhã, chovia à tarde ou de noite ou de madrugada. Mas chovia. Não deixava de chover.
     E foram tantas águas rolando prá todos os lados que uma noite eu comecei a escutar uns barulhos esquisitos de um bicho que eu não reconheci na hora qual era. O bicho parecia que latia igual a um cachorro, mas estava meio rouco e o latido era rápido, coisa de segundos. Abri a porta que dá acesso pra garagem e olhei com cuidado, procurando pelo bicho que latia, mas não era o meu cachorro e pra espanto meu, havia um monte de sapo pra tudo quanto é lado na garagem. Parecia uma invasão. De cara fiquei espantada e gritei “Caraca! Quanto sapo!”.
     Corri pra dentro de casa, fechei a porta e fui pegar a máquina pra tirar fotos dos sapos. Aquilo tinha de ser registrado. Ninguém ia acreditar em mim se eu falasse que meu quintal tinha sido invadido por sapos. Lembrei até das sete pragas do Egito.
      Meu celular não tirava fotos e minha máquina digital estava sem pilhas. Que coisa feia! Com tanta tecnologia a minha disposição, esqueci que para usufruir dela a gente precisa estar bem equipado. Pronto. Meu plano falhou. Mas chamei meu marido, meus filhos e o bom de tudo é que meus vizinhos também receberam as visitas dos sapos invasores. Fiquei contente. Tinha testemunhas do acontecimento.
     Toda noite depois da chuva eles apareciam. Esparramavam-se pela garagem, pelo quintal da frente, dos fundos, realmente uma invasão. Mas a chuva foi cessando e os sapos diminuindo. O bando foi ficando menor e ficou escasso. No final de tudo só sobrou um que cismou e ficou morando no meu quintal. Toda noite ele aparecia. E com o tempo ele foi crescendo e engordando e foi ficando maior, maior e mais gordo. Ficou bem gordo. Eu o chamava de sapo gordo.
   O folgado do sapo ficou morando na calha da chuva e quando chovia a água não passava mais porque ele entalava lá dentro de tão gordo e começou a dar enchente na minha garagem e ele também começou a ficar sem graça e nojento, porque ele defecava minha garagem todas as noites e todos os dias eu tinha que lavar. Isso sem contar que ele ficava latindo que nem um cachorro e aquilo me davam nos nervos. Era aquele latido estranho, rápido de segundos, mas era um latido.
     Descobri que o sapo era o tal do “cururu”, muito comum lá na Paraíba e que ele mordia e latia mesmo. Lá na Paraíba o povo tem até medo dele porque se ele não gostar de você, ele avança e morde que nem cachorro. Valei-me. Quem disse isso pra mim foi um Paraibano legítimo que acho que não tinha intenção de mentir.
     Comecei a ficar com medo do sapo gordo e a pensar em um jeito de me livrar dele. Aliás, dele só não, porque eu acho que ele se casou e já tinham mais dois morando na calha da chuva com ele. Talvez fosse mulher e filho ou algum outro parente do tempo da invasão.
     Como toda vez que eu lavava a garagem o sapo gordo saia da calha, porque começa a ficar muito cheio dágua e eu tive uma idéia brilhante. Esperei ele e seus amigos saírem e peguei um balde velho e emborquei perto do sapo e varri-o pra dentro dele. Depois fui até sua esposa e filho e fiz a mesma coisa. Eles tentaram pular pra fora do balde, mas eu coloquei uma revista por cima e segurei e levei-os para passear.
     Fui até os fundos do quintal que dá para outra rua e soltei os três juntinhos para não se separarem por lá, pelo mato.
     No dia seguinte quando olhei pra garagem e vi as sujeiras eu não acreditei. Eles haviam voltado. Meu plano deu errado.
     Tinha que colocar em ação o plano B.
     O processo foi o mesmo. Coloquei os três no balde, cobri a borda pra não fugirem e levei–os novamente para passearem, só que desta vez um pouco mais distante.
     Andei igual uma retardada com um balde nas mãos cheio de sapos e quando achei que estava em lugar legal para eles, tirei a tampa do balde e soltei os danados no terreno da rua de trás. Uma outra rua, bem longe, uns 300 metros da minha casa e ainda passei vergonha porque um vizinho me viu e perguntou o que era aquilo e eu falei “ é  uns sapos que moram lá em casa e eu estou despejando”. Só me faltava essa. E ele ainda ficou rindo. Não achei graça nenhuma.
     A partir dali fiquei com raiva dos sapos.
     À tarde lavei a garagem, coloquei ração pro cachorro e fui tirar uma soneca.
     A campainha tocou. Fui atender. Uma menina, vizinha minha, colega da minha filha, falou: “tia tem um monte de sapo aqui no portão da senhora!” Eu não acreditei. Fui abrir o portão pra ver se eram “eles” que estavam voltando e gritei: “eu não acredito!”. Foi só abrir o portão e pronto. Entraram e correram pra calha dágua. Me deu uma raiva!
     Não tinha o Plano C, mas tive de inventar um e rápido.
     Esperei chegar o final de semana, mais precisamente o sábado, sabe por quê? Porque meu marido tá de folga e eu levaria os sapos para passear desta vez de carro. Meu marido iria dirigindo e eu levaria o balde com tampa, com sapo e tudo pra bem longe. E foi o que fiz. Juntei os três de novo, coloquei no balde, cobri e fomos eu e meu marido para uma voltinha com os sapos.
     Foram colocados com todo amor e carinho em um cantinho no matinho os três, juntinhos, bem distante de casa, bem distante de tudo, em um lugar de muito mato, muito verde e umidade como eles gostam. Ficaram e nós voltamos para casa. Ainda comentei com meu marido que só faltava eles seguirem o carro.
     Desta vez acredito que eles não possam voltar por causa da distancia em que foram deixados. Mas, se voltarem, pelo amor de Deus! Não sei como será o plano D. Acho que eu vou ter que me mudar.





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