3 de fev. de 2011

Era só o que me faltava




    
     Escuta essa!
     Ontem acordei um pouco mais tarde porque já eram quase 9 horas da manhã e fui correndo molhar minhas plantas antes que o sol batesse nelas.
     São samambaias na varanda e uma horta enorme no quintal dos fundos. Qualquer dia desses vou tirar umas fotos do pé de chuchu que tenho lá e as pimentas que semeei e já estão enormes. Enquanto eu molhava as plantas,  voei no pensamento e fui até a minha terra e me lembrei de quando eu era criança e ficava paquerando a mangueira enorme e cheinha de mangas que minha vizinha em Madureira tinha. Nunca pedimos nenhuma manga a ela e ela também nunca ofereceu nenhuma a nós. Eu me mudei daquela casa com a vontade de comer uma daquelas mangas. Será que se eu pedisse uma manga ela me daria? Sei não. Meu pai ensinou pra gente que não se deve pedir as coisas de comer  para os outros a menos que fosse por necessidade. Então, fiz obedecer e lá no meu íntimo prometi que um dia eu teria um quintal com um monte de mangueiras. E tive. Morei em uma casa anterior a essa que moro agora, onde havia quatro mangueiras, além de outras frutas e todo fim de ano elas ficavam carregadinhas. Uma delas era daquela manga rosa, bem grande e bonita que se vende em mercados no final do ano para enfeitar a mesa de natal.
     Essa era especial, porque ficava na frente da casa e os galhos de tão pesados caíam por sobre o muro deixando as mangas do lado de fora, rente à calçada para qualquer um que quisesse pudesse pegar uma manga e saísse comendo. Eu gostava de ver meus vizinhos chegando até o pé de manga e retirando as mangas para eles. Dava-me uma certa alegria.
     Eles sabiam que podiam fazer isso porque eu já havia falado com todos eles que não precisaria me pedir, poderiam pegar quando quisessem.
     E as outras mangueiras que ficavam do lado de dentro do meu quintal, eu colhia as mangas e separava uma parte para o asilo que havia ali perto e o rapaz que recolhia donativos vinha pegar em minha casa para ser levado para o asilo e lá eles faziam suco e o restante das mangas eu colocava nas sacolas e levava para meus vizinhos.
     Nesse mesmo quintal havia um pé de abacates gigantes. Eles eram enormes e pareciam uma pêra gigante. Quando estava bem carregado a minha única preocupação era que eles caíssem e machucassem alguém, principalmente meus filhos que ainda eram pequenos e poderiam até morrer devido a altura em que eles se encontravam e por causa do tamanho deles.
     Num belo dia,  apareceu um carroceiro perguntando se eu poderia vender alguns abacates para ele e eu falei que ele poderia pegar quantos quisesse. O homem subiu no abacateiro com um cinto de segurança e começou a recolher os abacates e encher a carroça. E quanto mais abacates ele pegava mais eu me sentia aliviada pelo favor que ele estava me fazendo e no final eu lhe disse que ele não precisaria me pagar por nada, afinal ele me livrou de um pesadelo que eu vivia todos os dias.
     Apenas agradeci e ele se foi. Resultado: meus vizinhos ficaram irados comigo porque eu acabei com todos os abacates sem me lembrar de separar os deles. Teve um até que falou que eu fui muito boba em não ter vendido os abacates e que o carroceiro era um bicho muito folgado. Como sou muito boazinha e não brigo com vizinho de jeito nenhum, apenas sorri e deixei pra lá. Chupa essa manga!




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