10 de mar. de 2011

Lembranças de infância


     O falso PM

                                           

      De vez em quando eu me pego navegando no passado bem longínquo onde passei minha infância e fico lembrando de cada coisa que Deus me livre. Até eu achava que tinha esquecido, mas ainda me lembro. São coisas engraçadas, outras ruins, outras bobas, mas eu me lembro e prefiro recordar e contar aqui as lembranças engraçadas porque são as mais viáveis, afinal de contas não é interessante ficar relembrando coisas tristes não é mesmo?
     Acho que eu tinha uns 11 ou 12 anos, isso eu não me lembro muito porque já faz muitos anos e estávamos eu, minhas irmãs, a Regina, o Jorge, Urubatan, Alex, Lairton, Dinho, Silvinho e uma penca de colegas da rua lá de Honório Gurgel brincando de passa-anel e estávamos todos sentadinhos na beira do meio fio da calçada em frente à minha casa enquanto um estava de pé com as mãos escondendo uma pedrinha que era o anel (o anel era fictício mesmo) e poderia ser qualquer coisa os outros aguardavam com a mão fechadinha igual quem tá rezando , quando de repente passa correndo e com cara de apavorado um rapaz desconhecido e olhando pra trás e atrás dele, veio correndo um vizinho nosso que tinha mania de bancar o policial, gritando para ele parar e de arma em punho, dando tiros para o alto. Foi um reboliço do cacete. Todo mundo correu pra dentro da minha casa e ficamos olhando com os olhos arregalados pela varanda da minha avó tentando entender o que estava acontecendo.
      Meu tio que ainda era um meio adolescente saiu correndo também atrás do camarada junto com os dois outros amigos dele lá da rua. Acharam que era um bandido que estava na área e foram ajudar o vizinho metido a PM. Correram e sumiram na poeira, ele, os colegas dele, o vizinho e o pobre coitado do “suposto bandido”.
      As mães apareceram todas de repente e de uma vez só, todas berrando os nomes dos filhos, apavoradas com os tiros que tinham ouvido. Mais apavoradas elas ficaram quando nós dissemos que meu tio e outros dois colegas tinham ido também atrás do cara com o vizinho maluco.
      Ficamos de butuca ligada,  com o pé lá  outro cá e minha mãe e as vizinhas fofocando e cada uma palpitando o que teria acontecido pro tal vizinho ter corrido atrás do camarada. Minha mãe tava bem nervosa porque o irmão dela estava lá pra longe e a gente sem saber o que fazer e nem o que tinha acontecido.
          Quase uma hora depois apareceram lá no final da rua, meu tio, os dois colegas e o vizinho maluco. Vieram conversando e parecia que estava tudo bem.
     O vizinho “PM” passou direto com o trabuco na mão em direção a sua casa e meu tio e os colegas foram bombardeados com um monte de perguntas. Todo mundo queria saber o que tinha acontecido. Onde estava o meliante e porque dos tiros, se o cara tinha morrido, se tinha levado bala.Todo mundo falava ao mesmo tempo e a minha mãe repreendendo meu tio que não tinha nada que ter ido lá.
     Meu tio na maior calma falou que não foi nada não. O vizinho “PM apenas suspeitou do rapaz quando ele passou pela rua e lhe deu “voz de prisão” e o mesmo assustado, pensando que ele era um assaltante, tentou fugir empreendendo maior velocidade nos passos e isso foi o que deu a certeza ao vizinho “PM” maluco que o jovem era “suspeito” e tava devendo algo, senão não correria. Correu atrás dele, gritando prá parar e ele danou a dar tiros pro alto porque o cara tava fugindo.
     O negócio não prestou não. A mulherada bateu na porta do vizinho maluco e o bate boca durou foi tempo e não demorou muito a PM verdadeira chegou à casa do maluco com o “suspeito” do lado. Ele deu parte na polícia, por ser um homem de bem, trabalhador e confundido com bandido e quase morto a tiros por uma falso policial e o feitiço virou contra o feiticeiro. O vizinho teve sua arma (que eu não sei onde ele conseguiu) apreendida e ainda foi convidado a prestar depoimento na delegacia.
      Eu sei que a mulherada da rua não aliviou ele não, ao contrário achou bem feito pra ele aprender a não ficar dando tiros na rua cheia de crianças e crianças delas ainda por cima.
     Depois disso ele custou a aparecer na rua e as mães avisaram: se ele aparecer, chama a gente!



Mais uma lembrança que tive agora.

 As duas vizinhas

 
Eu tinha duas vizinhas que se destacavam na rua e todo mundo conhecia porque elas brigavam muito e eram muito escandalosas e depois ficavam amigas que pareciam ter nascidos uma pra outra.
     Eram bem sem vergonhas, isso sim.
     O tapa comia solto em um dia e no outro eram só altos papos e gargalhadas.
     Mas teve uma vez que uma delas queria ir a Praia de Ramos tomar uns caldos e pediu emprestado o maiô à outra. Como a outra não ia à praia naquele domingo ela emprestou, mas deu mil recomendações ao seu maiô horroroso cor de abóbora. E lá se foi a outra toda “posuda”  pra praia tirar umas ondas com o maiô da amiga.
     Depois de se esbaldar o dia inteiro na “merda”, (porque aquela praia era cocô puro naquela época), chegou queimadinha da praia e toda feliz e foi tomar um banho prá ficar cheirosa e depois ir prá rua fofocar.
     As duas “peças” e mais uma meia dúzia de mulheres ficaram fofocando a tarde toda até que a dona do maiô perguntou: - cadê meu maiô? A coleguinha respondeu  que tava lavando e assim que secasse ela devolvia. Podia ficar tranqüila.
     Passaram uns dias e escutei quando a dona do maiô bateu palmas na casa da amiguinha e gritou lá do portão: Cadê meu maiô??? Não conseguiu secar não é? Sua piranha!  Tá querendo ficar com meu maiô, é?
      Pronto. Minha mãe falou. Agora mesmo é que ela não vai ver mais maiô nenhum.
     Não deu outra. A amiguinha saiu de casa cuspindo maribondo e perguntando quem é a piranha que você ta falando aí minha filha? Eu não quero essa porcaria de maiô não, todo rasgado, ferrado, prá que eu quero uma porcaria desta?
     Rasgado? A outra deu um grito e repetiu eu acho que umas dez vezes. RASGADO? Ele não tava rasgado não sua piranha. Você é que é gorda demais e acabou com meu maiô. Eu vou querer outro novinho!
     A outra deu uma gargalhada bem debochada lá de dentro do quintal e ainda  colocou a mão nas cadeiras e gritou: Quem você ta achando que é sua vaca? Piranha é você que ta querendo se aproveitar e ganhar um maiô novo e eu não vou te dar nem novo e nem velho. Vai ficar sem maiô prá aprender a respeitar os outros! E piranha é você!
        Quando eu vi a outra tava pulando o muro e nem deu tempo da amiguinha correr. Rolaram as duas no chão e o coro comeu. Foi tapa prá tudo quanto é lado. A rua encheu. O povo todo se debruçava no muro prá olhar a briga lá no quintal. 
       Até que a joaninha (um fusca pintado de preto e branco da polícia civil)  chegou e quando o policial viu que eram as duas de sempre que estavam de novo se grudunhando ficaram até desanimados. Não se meteram. Esperaram elas se cansarem e perguntaram se iam querer registrar alguma queixa ou queriam deixar prá lá. As duas entraram quase que juntas dentro da joaninha e os policiais foram embora com elas.
     Mais tarde, quase de noitinha as duas voltaram de joaninha e foram deixadas em casa. As duas com cara de bunda. O doutor delegado deve ter passado um sabão nas duas.
     Passaram um bom tempo sem se falarem.
     Virava a cara uma prá outra, até que eu não lembro o que foi que aconteceu na rua que foi a oportunidade para que voltassem a se falar.
     O papo do maiô foi esquecido totalmente até que a toalha de praia não foi devolvida.

 

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