15 de abr. de 2011

Um dia triste


  
          Eu poderia postar uma poesia, um outro artesanato que fiz nesta semana ou até mesmo falar de algo que me lembrei da infância, mas não consegui mais raciocinar depois de assistir pela TV a desgraça que ocorreu em Realengo com todas aquelas crianças. Em todos os anos da minha vida e por mais crimes que já tenha assistido nada me fez sentir um mal estar tão grande como o qual eu senti assistindo todas aquelas crianças correndo e gritando, umas caindo e levantando em total pânico, algumas ensangüentadas, outras mortas sem mais se mexerem.
     Foi tudo muito triste e assustador e é claro que um fato deste tem de ser comentado, noticiado, pois precisamos ficar informados. O rádio, a TV, a internet são meios de comunicação importantes e essenciais aos dias de hoje. Temos o direito de sermos informados, mas não acho que devemos ser obrigados a ver as imagens deste horror em câmera lenta, com música lenta no fundo e uma demagogia sem precedentes de emissoras de televisão.
     Os repórteres de algumas emissoras, não sei se a mando da própria para atingir o nível desejado de audiência, parecem sanguessugas, sem sentimentos, sem emoções. O que me parece por diversas vezes é que quanta mais desgraça e horror puderem ser filmados, melhor.
      Entrevistam crianças horrorizadas e que precisam de urgência de um tratamento psicológico como se fosse alguma celebridade e demonstram que realmente é um trunfo tê-las ali ao lado, podendo contar com riquezas de detalhes como o próprio repórter comentou todo o desenrolar do massacre que aterrorizou não só o Brasil, mas o mundo inteiro.
     O que me aterrorizou mais foi ver no dia seguinte à mesma criança sendo convocada à outra emissora para que durante o café da manhã junto à apresentadora do programa, contasse tudo novamente e relembrasse tantas vezes fossem necessárias para que as emissoras pudessem alcançar o pico da tal da audiência.
      É uma briga pela maior audiência e não importa se a criança esteja ou não horrorizada, estressada, psicologicamente abalada. Ela precisa contar, ela tem que contar, tem que relembrar, tem que ver todo o horror que já viveu novamente e se ela chorar, ótimo! Criança chorando dá audiência!
      O que é isso Meu Deus? Será que estou vendo demais ou os repórteres já não se importam se há um problema grave acontecendo e só querem noticiar os fatos?
     Mas aí eu pergunto: cadê o abalo do repórter? Será que ele não consegue se entristecer com todo aquele caos que se formou dentro da escola e na rua em frente à escola?
     Cheguei a uma terrível conclusão. São frios e contabilizam apenas a pesquisa de ibope. Se a audiência cai, chamam e agradecem pessoas que tenham assistido a tudo e tenham filmado o grande horror e exibem vídeos do massacre como troféus e ainda enfatizam: não percam! Novas imagens, agora inéditas do massacre em Realengo!
     É triste, mas a verdade seja dita. Fatos têm de ser noticiados, mas notícias não devem servir de demagogia para o alcance de audiência.
     E por quase uma semana pensando em tudo isso e atordoada com toda essa tristeza que me abalou, sim porque eu chorei com algumas mães que perderam seus filhos. Me imaginei no lugar delas, pois minha filha estava na escola quando tudo isso aconteceu e comecei a refletir sobre tudo,
     Agora o Senador Sarney quer fazer novo plebiscito prá campanha do desarmamento e eu pergunto o que tem isso a ver? Vai mudar alguma coisa na vida dessas famílias enlutadas? Os criminosos agora não terão mais como arrumar armar no mercado negro?
Parece que ele não tem o que fazer a não ser inventar modinha.
Melhor se tivesse ficado calado.
     Aqui em casa minha filha de 13 anos ficou bem impressionada com toda esse massacre que ocorreu e acabou vendo muita coisa que a TV mostrava e desse dia em diante passou a dormir comigo e me confessou que tem medo de ir à escola e acontecer isso também.
     Conversei muito com ela e disse que ela não precisava ter medo porque essas coisas não vão acontecer nunca mais e que ele procure orar pelas crianças que se foram para dar luz a elas.
      Se minha filha ficou assim, morando aqui tão longe e sem nem conhecer as crianças que foram vitimadas, fico imaginando as outras que passaram por todo aquele horror e que precisam a conviver com o dia a dia depois de uma tragédia. Como é possível ser forte e corajoso e fazer de conta que está tudo bem? Como é possível entrar na escola que foi cenário de um ato de extremo horror e falar pra si mesmo? “Acabou. Tudo passou”
    È... uma situação muito melindrosa, difícil para quem vai continuar por lá.
     Espero que estas crianças sejam fortes o suficiente e que consigam sim, saber lidar com esta sensação ruim de que ficará marcada em suas mentes para sempre. Que elas consigam encontrar a paz interior depois de tantas lágrimas derramadas.
    











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