19 de mai. de 2011
Sábado diferente
Morar na roça é complicado. A gente nunca sabe o que vai acontecer de novidade e qualquer coisinha que acontece é motivo de euforia e é considerado uma novidade, já que o lugar em que eu moro parece mais o lugar onde o Coragem o cão covarde mora, "terra de lugar nenhum".
As coisas não acontecem, não andam, não se resolvem, não se justificam, não alegram, não entristecem, não se mexem. As coisas simplesmente não chegam neste lugar. Nem os correios vem com frequencia por aqui, não chega a banda larga, não chega água decente prá se consumir. E quando qualquer coisa quando acontece é uma festa. Digo festa em tom de ironia, porque o alarde é tão grande e às vezes por pouca bosta. MAs, quanlquer coisinha é motivo de festa.
Esse sábado foi mais ou menos assim. O sábado tava legal, com sol, muita gente na rua (umas 10 crianças) e uns gatos pingados de alguns adultos diferentes porque eram visitantes de alguns poucos vizinhos que eu tenho, 15 para ser exato.
Rua pequena, lugar esquisito, com mato em tudo é quanto é canto. Cercado de matagal, porque já tinha virado floresta de tão pouco caso do administrador aqui da área. E o que aconteceu de repente? Pois é. O mato pegou fogo!
Eu estava fazendo meu almoço e escutei a criançada na rua gritando prá chamarem o bombeiro porque o fogo estava alto demais e foi um corre corre dos diabos de gente com baldes na mão pagando mico né, porque balde não apaga fogo em um matagal tão extenso e tão seco.
E o fogo foi se alastrando e querendo se esfregar nas cercas das casas e foi um bafafá, uma confusão. Até eu, que não saio na rua fui ver de perto a situação.Passei a mão no meu celular e chamei os bombeiros mas eles haviam dito que já estavam a caminho e que já haviam recebido vários chamados. Sabe como é, agora todo mundo tem celular.
Quando eles chegaram aí sim foi uma festa. Eles chegaram tocando sirene, com aquele carrão vermelho possante, diferente de tudo que a gente vê no dia a dia da roça. Isso sim é novidade! Tinha gente tirando foto, gente filmando. As crianças estavam felizes apesar do problema ser sério. Era pelo acontecimento! Afinal, não é todo dia que o mato aqui pega fogo e fica com labaredas tão enormes e os bombeiros vêm por aqui dentro do terreno.
Como se não bastasse, o primeiro carro dos bombeiros não deu conta de apagar o fogo que era demais e o mato enorme e a água ficou pouca e acabou acabando.Os bombeiros pediram reforços. Outro carro chegando. Outra festa. Mais novidades. Mais bombeiros, mais água. Mais farra nas ruas para as crianças.Crianças adoram essas coisas.
Os adultos pegaram emprestado abafadores e deram tapas no mato para evitar que novos focos se espalhassem. As fuligens subiram com o vento e sujou as roupas do varal, o quintal que eu havia varrido, a rua, as outras casas, realmente uma grande confusão.Até meu cachorro estava cheio de fuligens no pêlo.
Fumaça na rua não faltava. Não dava nem mais prá ver a rua, só tinha fumaça. Teve um menino, meu vizinho que lembrou bem e falou: - tia, parece até aquele filme "O nevoeiro".Eu lembrei de Silent Hill.Estava mais sinistro.
Tinha tanta gente na rua que por um momento eu cheguei a pensar que ali não era onde eu morava.
Depois de horas de muita luta, finalmente os bombeiros controlaram o fogo e se foram. E a rua ficou do jeito que sempre fica. Chata e parada. Somente as crianças ainda estava na maior euforia falando do acontecimento daquele sábado. Ficou Bem diferente esse sábado.
E no final de tudo, parecia que todos já haviam esquecido o acontecimento e a calmaria do lugar voltou. Tava tudo como antes no castelo de Abrantes e foi neste momento que me lembrei de um trecho da música "A Banda" de Chico Buarque de Holanda que dizia " ... e cada qual no seu canto e em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor..."
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Hilário, tia. Igualzim aqui. Inclusive semana passada houve um evento aqui tb. resgatei um gatinho que estava na minha porta e esse foi o comentário do dia seguinte.
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